O intestino delgado é hoje reconhecido como um ‘órgão inteligente’ ou ‘segundo cérebro’, por ser o único órgão do corpo humano capaz de executar funções independentemente do sistema nervoso central (SNC).
Esta autonomia se comprova pela sua habilidade em produzir arcos reflexos – intertransmissão de estímulos entre os neurônios sensitivos, associativos e motores – que tanto lhes permite captar as informações, como processá-las e responder de acordo com a necessidade do momento. Em outras palavras, os intestinos também pensam, decidem e executam tarefas tal qual um cérebro.
No Brasil, o Laboratório de Pesquisas em Neurônios Entéricos da Universidade Estadual de Maringá/PR, vem se destacando como centro de pesquisa no assunto. De acordo com o seu coordenador, Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto, os neurônios, tanto do cérebro como dos intestinos, guardam semelhanças e são basicamente de três tipos:
- Natureza Associativa:conduzem as informações a serem processadas.
- Natureza Motora: respondem aos estímulos.
- Natureza Sensorial: captam os estímulos do meio ambiente e os transmitem aos centros nervosos.
Sob a batuta dos neurônios entéricos, os alimentos devem percorrer o sistema digestivo a uma velocidade metabólica ideal, para que a massa alimentar e o bolo fecal não fiquem retidos (em qualquer parte do seu trajeto) mais do que o tempo necessário.
Qualquer alteração física ou mental se reflete na aceleração ou desaceleração dos movimentos peristálticos – diarréia ou prisão de ventre –, cuja cronicidade gera consequências desastrosas. E vive-versa.
Alegria de viver e serotonina são absolutamente interdependentes. Uma não existe sem a outra. Tanto é assim que os tratamentos clássicos da depressão envolvem esse neurotransmissor, interferindo no seu ciclo natural dentro do cérebro. A grande questão é que esses medicamentos não atuam no cerne do problema, que é a falta de produção da serotonina. O que acontece é que 90% da serotonina é produzida pelos intestinos, afirma o Dr. Helion Póvoa no seu livro O Cérebro Desconhecido (editora Objetiva):
“Quando analisamos o fato de que o intestino é fundamental na formação da serotonina, nada mais é preciso acrescentar. A alegria e a inteligência emocional, de que tanto precisamos para viver bem, começam realmente a partir do intestino! Por isso só nos resta garantir a esse fantástico órgão matérias-primas de primeira qualidade, o que conseguimos com uma alimentação saudável. Ele, inteligentemente, se encarregará de garantir nossa saúde e felicidade”.
E mais, a serotonina é a precursora da melatonina, hormônio produzido pela glândula pineal, o centro superior de processamento de informação eletromagnética, bastante conhecido como auxiliar do bom sono. A melatonina é também o antioxidante mais poderoso produzido pelo organismo.
A serotonina e a melatonina têm uma relação de alternância. A primeira predomina quando o cérebro se encontra em estado de alerta e a segunda nos períodos de sono. O que não se sabia até recentemente é que ambas são secretadas pelas glândulas dos intestinos, e não apenas pela pineal. Esta dupla dinâmica aumenta a qualidade do sono, a sensação de bem-estar, o otimismo, o bom humor, a capacidade de atenção e de raciocínio. Os pensamentos ficam mais leves e a vida mais prazerosa.
As primeiras evidências desse fato vieram das pesquisas do Dr. Michael D. Gershon, autor do livro O Segundo Cérebro (editora Campus) que revelaram dois fenômenos importantíssimos:
- As paredes dos intestinos, estimuladas pela fricção das fibras alimentares, secretam a serotonina.
- A serotonina secretada pelos intestinos é o fator de controle do peristaltismo que, em cadências regulares, movimenta o bolo alimentar e as fezes ao longo do trato gastrintestinal.
As paredes do trato gastrintestinal são recobertas por uma rede de neurônios diretamente responsáveis pela coordenação de todas as funções digestivas que, embora estejam conectados ao sistema nervoso central, têm total autonomia sobre todas as etapas do processo digestivo.
Por isso, a higiene alimentar e a higienização dos intestinos também são essenciais à prevenção e à reversão dos quadros de distúrbios emocionais e problemas mentais.
A alimentação moderna, com tanto refinados, aditivados e agrotóxicos, pode estar fazendo com que os intestinos padeçam, dificultando todas as nossas inteligências.
Conceição Trucom é química, cientista, palestrante e escritora sobre temas voltados para alimentação natural, bem-estar e qualidade de vida.
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Fonte: site Doce Limão